Pesquisar neste blogue

quarta-feira, 31 de janeiro de 2007

Abrandamento

O veículo seguia já a mais de 190 km/hr. A estrada era boa e o carro também, mas havia uma inquietude que se traduz em insegurança e medo e é melhor abrandar. O risco é demasiado grande e o preço da alucinada liberdade demasiado elevado. Ela estava bem consciente disso.
Os cento e muitos cavalos têm de ser refreados e as rédeas de novo puxadas para trás. Não se deve andar depressa demais nem voar sem pára-quedas. É bom voar e não ter medo, mas os pés, esses devem sempre estar assentes em terra que cremos firme (mesmo que não o seja).
Devemos soltar amarras para voar mas assim como o barco preso ao cais, quando parte apesar da aventura mar dentro sabe ao que vai, os riscos que corre, vai preparado para acidentes e incidentes (pelo menos deveria de ir) e dali a horas voltará ao cais e será preso com amarras, para se sentir seguro e não ser levado pela maré da madrugada sob a lua prateada e perdido à deriva ficar até as ondas o despedaçarem contra as rochas de além.

Ele parte, navega e voa, mas volta, tem para onde voltar e é bom que haja sempre alguma coisa que o prenda à terra, à vida, se não corre o risco de se perder para sempre e se despenhar contra os rochedos.

A rapariga à mesa do café, entornou a chávena nervosa e os seus dedos trémulos não acertavam uma. Sob o olhar penetrante e firme dele voltou a deixar cair a colher e com um risinho nervoso não conseguiu disfarçar o que sentia. Tentava desviar os seus olhos dos dele mas estes eram como ímanes e os seus colaram-se aos dele. Até hoje ainda.

Abrandei. Sinto-me doente e desde domingo que não corro.

2 comentários:

Anónimo disse...

Mais uma vez, uma delícia de texto.
Os meus sinceros parabéns.
Ai que inveja que às vezes tenho de si, no bom sentido, claro, porque quem escreve assim, não há duvida que é uma predestinada.
Quero ler, ler muito, do que você tem para nos contar.
Força aí Ana.

Jorge Teixeira

Maria Sem Frio Nem Casa disse...

Obrigada Jorge! É um querido!

Ana