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quinta-feira, 30 de abril de 2015

38ª Corrida da Liberdade, Lisboa, 25 de Abril de 2015




O cravo recebe-me quando abro a porta de casa, na jarra sobre a mesa da entrada. Junto com outros troféus daqui e dali, de muito especial significado cada um, por isto ou aquilo, como o cravo.

Correu junto comigo o cravo, da Partida à Meta, junto ao peito, algures entre o coração e o estômago. Entre o Amor e o Pão, direi, bens indissociáveis sem os quais não se vive de facto. O cravo ouviu o meu coração bater acelerado e feliz ao longo de 10.710 metros corridos entre a Pontinha e os Restauradores nesta que foi a 38ª Corrida da Liberdade no dia em que o 25 de Abril comemora 41 anos.

Demorei 57m38m para percorrer a distância do então Posto de Comando do Movimento das Forças Armadas a partir do qual se desenrolaram as operações militares no dia da Revolução de 1974, até à Praça dos Restauradores, hoje cheia de alegria.

Gosto de correr. Gosto desta Corrida. Carregada de simbolismo, de inscrição gratuita e oferta de muita alegria. As ruas de Lisboa para correr, seguras. Abastecimentos de água, uma t-shirt. Uma recordação: Abril! A marcar Abril. A lembrar Abril. A Liberdade. De correr também. Organizada pela 38ª vez, a ACCL - Associação das Colectividades do Concelho Lisboa, está uma vez mais merecedora de Parabéns. Centenas de pessoas comemoram assim Abril a correr, em Lisboa. Eu fui uma delas e para o ano conto lá estar de novo.


A minha prova e reflexões politicamente incorrectas:

A minha prova é única e de única, tão igual à de todos os atletas um dia.

Estou "parada" há muito tempo. Estive literalmente parada quase 4 meses, a tratar um tendão de Aquiles. A treinar (recomeçar a correr) há muito pouco tempo (desde Fevereiro), com as interrupções que sempre vão havendo, por doença ou desculpas esfarrapadas que sempre se poderiam contornar, mas não, desculpas que sempre nos dão jeito afinal para justificar o injustificável, mas ainda assim faço por estar presente nesta festa de Abril que é a Corrida da Liberdade.

E claro, jamais saí arrependida de me levantar cedo, sair de casa e participar numa Corrida. Lisboa convida. Correr pelo Campo Grande, Saldanha, Marquês de Pombal e ter aquela Avenida da Liberdade para nós corrermos não é coisa que se deva desperdiçar.

Revi muitos amigos, como sempre, e tive mesmo alguns parceiros por alguns metros de Corrida. Gosto. Compreendo hoje que esta amizade corrida é absolutamente ocasional. Dependente das circunstâncias, tal atleta que acompanhamos só porque nos dá jeito e/ou por coincidência tem o mesmo ritmo que nós. Não corro para fazer amigos nem sequer para conviver. Há rostos amigos e assim gosto de os saber: amigos. Não lhes peço mais, nem lhes dou mais. Há muito que aprendi que a Corrida que nos une não é suficiente para nos mantermos ou sequer nos chamarmos de amigos. Amizade é outra coisa. Corre muito para além da Corrida. E se é verdade que tenho Amigos que conheci e fiz a partir da Corrida, também é verdade que a maioria não passa de um rosto familiar de quem nada sabemos nem queremos saber. Sentimento recíproco. É a puta da verdade do maravilhoso mundo da corrida.

Reflexões à parte, gostei imenso desta Corrida. Saí de trás como quase sempre e mantive um bom ritmo a prova toda. Abordam-me durante o percurso (um outro atleta) para me falar deste pedaço de memórias, páginas rasgadas de uma mente perturbada a que chamamos de blogue e que uma personagem de nome Maria Sem Frio Nem Casa dá vida e continuidade. Parabenizam-me por relatos antigos e comovo-me. Recordo também eu essas passagens, o significado para mim que afinal também se estendeu a terceiros de forma tão marcante, sem eu o saber ou imaginar sequer. Coisas que nos fazem continuar. Um rosto amigo a ser lembrado amanhã.Obrigada.

Ao aproximar-me da meta, no meio de toda a adrenalina, a descer a Av. da Liberdade a todo o gás, há uma inquietação crescente e busco com os olhos o meu pai. Preocupo-me e busco-o. Em cada prova, mais.

E vê-lo assim no final, é e será sempre o meu melhor prémio ao cortar a meta depois de cada prova corrida: (obrigada Zé Gaspar)

                                      

Por isto, tudo vale a pena.

Algum congestionamento de atletas no final, para levantar a t-shirt e a garrafa de água mas bem melhor que no ano passado.

Saio de lá contente e feliz, para além de bem suada, como era minha pretensão. Viva o 25 de Abril e a Corrida da Liberdade! Para o ano lá estaremos. Certa e igualmente...entre Amigos!
Com o Filipe e a Henriqueta - Obrigada Henriqueta!
Obrigada Filipe!

Poucos metros depois da Partida

Obrigada Eugénia! 

Obrigada Mário Lima! Também pela companhia naqueles metros!


Obrigada Orlando Duarte!




Com o Filipe, já depois da meta cortada

E por fim...Obrigada Pai

Fotos:

Pela AMMA - Atletismo Magazine Modalidades Amadoras, aqui
Pela Mafalda Lima, aqui
Por Marcelino Almeida, aqui
Por Mário Lima, aqui
Por Orlando Duarte, aqui

terça-feira, 14 de abril de 2015

Há 9 anos...


Nascia a Maria Sem Frio Nem Casa em forma de blogue.


Adormecido mas não morto, ainda resiste. Sereno e calmo, prestes a gritar a qualquer momento, ainda.

Em nove anos, muitas fases de vida, muitas vidas, muita vida. Muitas palavras, muitas caras, muitos sorrisos, algumas lágrimas, alguma música, muitos amores e desamores e sempre muitas Corridas.

Adormecido ou anestesiado, quase vencido por outras modas, mais fáceis de tão instantâneas quanto efémeras, ainda resiste e persiste a Maria Sem Frio Nem Casa em forma de blogue.

Com palavras, que não são dela, mas bem que poderiam ser para descrever estes nove anos...deixa-vos a Maria com UHF:

Nove Anos

"Nove anos é tanto tempo
Passei a correr por aí
Com uma guitarra bandoleira
Espalhando cinzas pelo país

Conheci gente de todo o lado
Floresta minha uivando sem parar
E outra gente daqui bem perto
armas escritas, surdas a matar

Há nove anos soltei amarras
em nove anos peguei de caras - peguei de caras.

Mordi nos sorrisos mais estridentes
hotel à noite - outra cidade
entrei pelos olhos mais descarados
fácil de mais para ser verdade.

Senti o medo à beira do palco
Olhei a cor da provocação
armei cantor esse pateta
a glória da vida é uma canção

.../,,,

Caí no cerco, caí a fingir
a velha história de camas desfeitas
molhei a espera no ouro do whisky (whisky)
um cabotino que o ódio espreita

Em nove anos corri sem parar
com as raízes fora da terra
diverti-me assim sem ligar
a morte cínica de uma fera.

Há nove anos soltei amarras
em nove anos peguei de caras - peguei de caras.

Há nove anos."

ANTÓNIO MANUEL RIBEIRO, UHF, in "Noites Negras de Azul"



Há nove anos...nascia a Maria Sem Frio Nem Casa... e ainda corre pela Vida, entre Corridas, UHF e muito mais. 

sexta-feira, 3 de abril de 2015

O Ensaio-Geral para o 3º Trilho das Lampas, 3 de Abril de 2015

Fui hoje ao Ensaio-Geral para o 3º Trilho das Lampas, Trilho que se irá realizar dia 9 de Maio, com início ao final da tarde de forma a que a maioria dos atletas cheguem à praia antes do Sol se pôr e percorram os restantes kms já noite escura, onde o foco dos nossos frontais indicará o caminho através de marcas reflectoras colocadas ao longo do caminho.

Fiz o  e o 2º Trilho das Lampas, muito a dever à insistência amiga do grande impulsionar da Corrida, responsável pela Meia Maratona de S.João das Lampas desde o seu início, que terá a sua 39ª edição em Setembro próximo, o mestre Fernando Andrade, que também organiza este Trilho e treinos de malta amiga que ultrapassam sempre a centena de participantes, nomeadamente a Meia Nocturna e os Ensaios do Trilho. Com uma postura singular e admirável a nível pessoal que se reflecte inevitavelmente nas suas organizações, tem assim com este senhor, São João das Lampas marcado presença no calendário de muitos atletas e amigos da Corrida. A forma de receber e o cuidado para com o atleta, os pormenores pensados, a humildade e uma forte componente humana, aliados a um profissionalismo crescente, fazem das provas (e treinos) de S.João das Lampas um ícone de referência para todos os que amam a Corrida e a Natureza e faz este Trilho fazer parte do Circuito Nacional de trail da Associação de Trail Running de Portugal.

Fui a este Ensaio-Geral pela 1ª vez e tive pela 1ª vez hipótese de ver o percurso todo com luz do Sol.

Um Sol que se deita sempre na Praia da Samarra aquando das minhas prestações nas edições anteriores do Trilho e este ano não será diferente.

Hoje o Ensaio estava marcado para as 8:30hrs da manhã e nessa altura juntavam-se à volta do coreto de S.João das Lampas, cerca de 150 indivíduos amigos do Trail. Habituais e novatos também nestas lides. Uma breve apresentação e agradecimentos e estavam todos prontos para partir. Prometia-lhes este Ensaio (a custo zero) o percurso da prova para usufruir, bem marcado, um abastecimento a meio e à chegada, instalações para banho, uma boa reportagem fotográfica e sempre um constante apoio. Era prometido a paisagem natural e emoções e experiências vividas dentro de cada um num cenário magnífico.

E o prometido foi sobejamente cumprido. Com o percurso bem marcado, cada um seguiu o seu ritmo e acabou mais ou menos cansado e partido, mas invariavelmente de sorriso no rosto e brilho no olhar. 

Muitos voltarão dia 9 de Maio para a prova. Eu incluída e uma vez mais agradecida ao Fernando Andrade. Muitos voltarão para simplesmente voltar a correr por ali. 

O dia começou com um Sol escondido, que nos poupou, e sem vento ou aragem e um Sol já descoberto para os últimos kms já o calor se fez sentir. O que não acontecerá na 3ª edição do Trilho, Nessa parte do percurso já estarei a correr na escuridão. E se perco paisagem e cenário que hoje vi e senti também com o olhar, no Trilho corrido à noite todos os outros sentidos estarão bem mais apurados e despertos. Os sons e os cheiros far-se-ão sentir de forma especial e intensa, quase pura, e a noite convida e ouço-me respirar assim como os meus passos e o mar, e as aves nocturnas, os batráquios e os grilos, e sinto-me intensamente viva nessas alturas, e se inicialmente estava um pouco renitente com o facto da prova ser feita boa parte às escuras, hoje já não sei se prescindia dessa parte. Talvez não precisasse de tantos kms feitos já de noite, mas isso só se deve ao facto de eu ser bastante lenta. Talvez se a prova começasse um pouco mais cedo. Talvez...

Este Ensaio foi adorável. Mágico. Especial. Transcendente. Tudo o que a Natureza nos dá. Tudo o que S.João das Lampas, Fernando Andrade e sua equipa nos dão. Voltarei sempre! Obrigada Fernando Andrade.

Fotos do Ensaio e outros comentários sobre o mesmo podem ser vistos na página de facebook do evento, aqui.

Algumas imagens (de vários amigos e participantes)












E um pequeno video por Joaquim Adelino - a passagem pela Praia da Samarra:


E para que fique registado: Corri e andei 19,240 Km e demorei para os fazer 2h46m39s.